Lançada em setembro de 2018 a música Shallow, que foi gravada por Lady Gaga e Bradley Cooper para o filme A Star Is Born (Nasce uma Estrela no Brasil), obteve diversos prêmios e alcançou destaque entre as músicas mais tocadas em diversos países. Diferente de outras músicas que também fizeram muito sucesso, esta chama a atenção por sua letra, que, apesar de ter sido pensada especialmente para o filme e o relacionamento entre os protagonistas, carrega vários elementos de reflexão.
As reflexões que a música nos leva a fazer são comuns a realidade em que vivemos atualmente, onde buscamos entendimento e sentido na vida e nas coisas que fazemos. Propositalmente, ou não, a música vai além das agruras vivenciadas nos relacionamentos amorosos e resulta numa reflexão pelo sentido de algo maior que nossa individualidade, abrindo portas para que possamos buscar em nós mesmos algo mais do que o mundo das aparências pode nos oferecer.
A Letra da música
A música se desenrola como um diálogo entre o casal que inicia com o seguinte questionamento (letra já traduzida – retirada do site Vagalume):
Me diga uma coisa, garota.
Você está feliz neste mundo moderno?
Ou você precisa de mais?
Existe algo mais que você está buscando?
Desta parte, podemos perguntar a nós mesmos, o mundo em vivemos é suficiente para nós? Será que aquilo que fazemos no dia a dia nos preenche e nos dá sentido suficiente para que possamos viver plenamente ou precisamos de algo mais? Será que não há algo mais na vida do aquilo que vivemos e nos dizem que é o necessário para se viver?
A música continua da seguinte forma:
Estou caindo.
Em todos bons momentos, me vejo ansiando por mudança
E nos maus momentos, sinto medo de mim mesma.
O “estou caindo”, excluindo o sentido literal, pode ser entendido como um cair em si mesmo, uma interiorização ao refletir sobre o rumo que nossa vida está tendo e se esse rumo é satisfatório. A frase seguinte já responde essa pergunta com um não, pois já existe a necessidade de mudança na pessoa. Porém, encontrar o caminho para sair desse rumo insatisfatório pode não ser tão fácil, é quando os “maus momentos” nos fazem sentir mal e atemorizados. É o desconforto por nos sentirmos perdidos e sem um porto seguro para nos apoiarmos.
O diálogo prossegue na música:
Me diga uma coisa, garoto.
Você não está cansado de tentar preencher esse vazio?
Ou você precisa de mais?
Não é difícil manter toda essa dureza?
Agora o questionamento é mais incisivo, levando a uma pergunta que muitas pessoas têm receio de fazerem a si mesmas – Você não está cansado de tentar preencher esse vazio? Quantos de nós vivem fugindo da realidade e buscam maquiar os acontecimentos para não ter que encarar a realidade, pois encarar a situação pode nos levar aqueles momentos que nos sentimos sem rumo e nos traz desconforto (trecho anterior da música).
Muitos passam uma vida fingindo que está tudo bem e vivem um dia após o outro apenas sobrevivendo, sem se dar conta do sentido das coisas que fazem ou de onde irão chegar seguindo este caminho. Manter essa ilusão de realidade e viver como se a vida fosse apenas lutar pela sobrevivência se torna mais desafiante com o tempo, pois temos que enganar a nós mesmos para que isso possa prosseguir e nos fechar para qualquer outro caminho que possa surgir – Não é difícil manter toda essa dureza?
O texto final da música vai além dos questionamentos sobre si mesmo.
Eu estou fora do limite, veja enquanto eu mergulho.
Eu nunca encontrarei o chão.
Atravesso pela superfície, onde não podem nos machucar.
Estamos longe do raso agora.
O trecho final reflete a decisão de mergulhar em si mesmo e ultrapassar os limites convencionados pelas pessoas do que é preciso para ser feliz e ter uma boa vida. Nesse mergulho em si mesmo a pessoa que busca suas próprias respostas fica longe do raso, do pensamento comum e superficial do que é a vida e de valores excessivamente materiais.
Ao mergulhar em si mesmo e ultrapassar a superfície não há mais como aquilo que é superficial lhe atingir ou fazer mal, pois você passa a se envolver com valores mais profundos e que realmente fazem sentido. Depois que se mergulha o medo vai ficando para trás e dando espaço para novas descobertas em si mesmo e, cada vez mais, o que é raso vai ficando para trás.